terça-feira, 9 de agosto de 2016

Acidentes Aquáticos


Acidentes no meio líquido:

     Todo ser vivo é constituído de células, ou por grupamentos de células, que se diferenciam,   entre   si,   para   formar   diversos   tecidos   e   esses   tecidos   sofrem adaptações para formar os órgãos;

     Para  manutenção  da  célula  e  também  para  garantir  uma  vida  saudável,  é necessário que o indivíduo apresente uma boa Função Cardiorrespiratória, afim de que a célula seja abastecida com oxigênio e também para que dela seja retirado o Gás Carbônico.

O sistema respiratório:

     É através da respiração que o organismo obtém o O2 e elimina o CO2, sendo que tal troca gasosa é realizada pelos órgãos e estruturas do aparelho respiratório, que é constituído por:

1) fossas nasais;
2) faringe;
3) laringe;
4) traqueia;
5) pulmões (brônquios, bronquíolos e alvéolos).

     Na inspiração, o ar entra pelas vias aéreas, e vai até os alvéolos pulmonares, que  são  completamente  envolvidos  por  finos  vasos  sanguíneos,  denominados capilares. É entre os capilares e os alvéolos que ocorre a troca gasosa, onde o O2 passa  para  o  sangue  (hematose),  e  o  CO2 sai  do  sangue  e  vai  para  os  alvéolos. Uma  vez  no  sangue,  o  O2 junta-se  a  uma  proteína  chamada  HEMOGLOBINA  e  é transportado, pela  circulação,  até  o  coração,  e  depois  para  todas  as  células  do corpo. Uma vez dentro da célula, o O2 é captado pelas mitocôndrias, que irão utilizá-lo na produção de energia;

     Como resultado dessa produção temos o CO2 que é expelido da célula, cai na corrente sanguínea, é captado pela hemoglobina, vai até o coração e , de lá, chega novamente  aos  pulmões,  e  é  jogado  para  fora  do  corpo  através  da  expiração,  e então novamente inicia-se o ciclo;

      Os  movimentos  de  inspiração  e  expiração  ocorrem graças  aos  movimentos dos músculos entre as costelas (intercostais) e ao diafragma, que separa o tórax do abdome.

Tipos de acidentes no meio líquido:

Síndrome de Imersão:



     Também  conhecida  como hidrocussão  ou  choque  térmico,  ainda  não  tem suas  causas  totalmente  explicadas,  mas  sabemos  que  ela  causa  uma  arritmia cardíaca, devido a uma súbita exposição à água fria, podendo levar a uma Parada Cardiorrespiratória (PCR) e consequente morte;

     Este  tipo  de  acidente  pode  ser  evitado-se  antes  de  entrarmos  na  água molharmos o rosto;

     Nos casos de Síndrome de Imersão em que não houve afogamento, deve-se  sempre  monitorar  os  sinais  vitais  da  vítima,  pois  ela  pode  entrar  em  colapso  a qualquer  momento,  necessitando  então  de  uma  rápida  intervenção  do  socorrista  a fim de que sejam restabelecidas suas funções vitais (pulso e respiração).

Hipotermia:

 
      É a diminuição da temperatura corpórea devido à exposição a temperaturas acima  ou  abaixo  do  ponto  de  congelamento,  podendo  causar  arritmia  cardíaca, seguida de PCR, perda da consciência e consequente afogamento;

     Uma  vítima  pode  estar  sofrendo  de  congelamento  caso  seu  corpo  perca mais calor do que ele produz. Os casos de morte por hipotermia variam entre 20 a 85%;

     Os  tipos  de  hipotermia  variam  de  acordo  com  a  temperatura  da  vítima, sendo que para se medir a temperatura é necessário que se tenha um termômetro que  indique  temperaturas  baixas,  ou  seja,  que  possuam  espectro  maior  do  que  os convencionais,  pois os  últimos  somente  indicam  temperaturas  entre  35  e  44º  C.  O termômetro mais indicado é o retal, pois possui espectro entre 28,6 e 44º C;

- hipotermia suave: (acima de 32º C) a vítima apresenta tremedeira, discurso incompreensível, lapsos de memória, mãos atrapalhadas;

Devido  à  queda  da  temperatura  corpórea,  teremos  um  vaso  constrição periférica,  o  que  irá  causar  a  cianose  das  extremidades,  mucosas.  Enquanto  o congelamento atinge mãos e pés, as vítimas de hipotermia queixam-se de dores nas costas e abdome;

- hipotermia  profunda:  (abaixo  de  32º  C)  não  há  tremedeira,  ao  contrário, ocorre,  na  maioria  das  vezes  o  enrijecimento  dos  músculos  similares  à  “rigidez cadavérica”. A pele da vítima apresenta uma coloração azulada e não responde à dor,   o   pulso   e   respiração   diminuem   sensivelmente   e   as   pupilas   dilatam-se, aparentando  estar  morta. Geralmente  entre  50  e  80%  das  vítimas  de  hipotermia morrem;

     Como  sabemos,  a  temperatura  média  do  corpo  varia  entre  36  e  37º  C,  o quadro de hipotermia inicia-se quando a temperatura do corpo cai abaixo dos 35º C, o que pode variar de organismo para organismo;

     Socorrista que irá atender vítimas desse tipo de acidente, deverá tão breve quanto  possível  aquecer  a  vítima,  conduzir  ao  PS  e  sempre monitorar  os  sinais vitais.

Afogamento:



     Entende-se por afogamento a aspiração de líquido não corporal causando asfixia;

      A asfixia pode dar-se pela aspiração de água, causando um encharcamento dos  alvéolos  pulmonares,  ou  pelo  espasmo  da  glote,  que  pode  vir  a  fechar-se violentamente  obstruindo  a  passagem  do  ar  pelas  vias  aéreas,  sendo  que  tais espasmos tão violentos são extremamente raros;

     No  caso  de  asfixia  com  aspiração  de  água,  ocorre  uma  diminuição  ou mesmo a paralisação da troca gasosa, devido o liquido postar-se nos alvéolos, não deixando  assim  que  o  O2 passe  para  a  corrente  sanguínea,  e  impedindo  também que o CO2 saia do organismo. A partir daí as células que produziam energia com a presença de O2 (aerobicamente), passarão a produzir energia sem a presença dele (anaerobicamente), causando várias complicações no corpo, como, por exemplo, a produção  de  ácido  lático,  que  vai  se  acumulando  no  organismo  proporcionalmente ao tempo e ao grau de hipóxia (diminuição da taxa de O2);

     Associado  à  hipóxia,  o  acúmulo  de  ácido  lático  e  CO2,  causam  vários distúrbios  no  organismo,  principalmente  no  cérebro  e  coração,  que  não  resistem sem  a presença  do  O2.  Soma-se  também  a  esses  fatores a descarga  adrenérgica, ou  seja,  a  liberação  de  adrenalina  na  corrente  sanguínea,  devido  à  baixa  de  O2,  o estresse causado pelo acidente e também pelo esforço físico e pela luta pela vida, causando  um  sensível  aumento  da  frequência  cardíaca,  podendo  gerar  Arritmias Cardíacas (batimentos cardíacos anormais), que podem levar à parada do coração. A  adrenalina  provoca  ainda  uma  constrição  dos  vasos  sanguíneos  da  pele  que  se torna fria podendo ficar azulada, tal coloração é chamada de cianose;

     A  água  aspirada  e  deglutida  provoca  uma  pequena  alteração  no  sangue, tais como, aumento ou diminuição na taxa de Sódio e de Potássio, além do aumento ou diminuição do volume de sangue (hiperou hipovolemia), (dependendo do tipo de água  em  que  ocorreu  o  acidente),  e  destruição  das  hemácias.  Com  o  início  da produção de energia pelo processo anaeróbio, o cérebro e o coração não resistem muito tempo, pois bastam poucos minutos sem oxigênio (anóxia), para que ocorra a morte desses órgãos;

     Levando-se em consideração que a água do mar possui uma concentração de  03%  de  NaCl  (Cloreto  de  Sódio),  e  que  o  plasma  sanguíneo  possui  uma concentração de apenas 0,9% de NaCl, caso seja aspirada água do mar, ela por ser mais densa que o sangue, promove uma “infiltração”, por osmose, do plasma no pulmão, tornando ainda mais difícil a troca gasosa;

     Caso o afogamento ocorra em água doce, que possui concentração de 0% de  NaCl,  ocorre  exatamente  o  contrário,  devido  o  plasma  ser  mais  denso  que  a água  doce,  fazendo  com  que  a  água  passe  para  a  corrente  sanguínea causando uma  hemodiluição  e  hipervolemia.  Além  desses  fatores,  a  vítima  de  afogamento, tanto  em  água  doce  como  salgada,  geralmente  desenvolverá  um  quadro  de Inflamação  Pulmonar,  podendo  evoluir  para  um  quadro  de  Pneumonia  (Infecção Pulmonar),  devido  à  água  aspirada  e  também  pelas  impurezas  e  microrganismos nela encontrados;

     Apenas  para  conhecimento,  em  caso  de  anóxia,  as  células  do  coração podem resistir de 5 min até 1 hora, mas os neurônios, que são as células cerebrais, não resistem mais que 3 ou 5 min;
O afogamento pode ser dividido em:

1) afogamento primário;
2) afogamento secundário.

     Afogamento  primário  é aquele  decorrente  diretamente  do  afogamento, sem que haja qualquer fator determinante anterior ao acidente;

     Afogamento secundário é  aquele  em que  a causa  imediata  da  morte é o encharcamento  alveolar,  mas  que  isto  decorreu  de  um  fator  determinante  anterior.
Exemplos: uma convulsão, um AVC, um infarto do miocárdio, um tiro, um suicídio, a embriaguez, a queda de uma costeira com consequente inconsciência, etc..

Fases do afogamento:

     O processo de afogamento envolve três estágios distintos, que podem ser interrompidos através da intervenção em sua ocorrência. São eles:

1) angústia;
2) pânico;
3) submersão.

     Este  processo  é  normalmente  progressivo,  porém,  qualquer  um  dos estágios  iniciais  podem  ser  suprimidos  completamente,  dependendo  de  uma  série de fatores.

Angústia:

     A palavra ANGÚSTIA, talvez não seja a que melhor defina esta fase, mas é a que melhor se adapta à palavra original desta teoria: distress. Distress é stress ao  dobro,  e  stress  significa submeter  alguém  a  grande  esforço  ou  dificuldades,  ou ainda causar receio ou estar perturbado. Para nós, a palavra que melhor se adapta, em  nossa  língua,  é,  então,  angústia.  Há  algumas  vezes  um  longo  período  de aumento da angústia antes do perigo real da emergência do afogamento;

     Estas  situações  podem  envolver  nadadores  fracos  ou  cansados  em águas  mais  profundas  que  suas  alturas,  banhistas  arrastados  por  uma  corrente  ou nadadores  que  apresentam  cãibras  ou  traumas.  durante  a  ocorrência  da  angústia, nadadores  são  capazes  de  se  manterem  na  água  com  técnicas  de  natação  ou equipamentos  flutuantes,  mas  têm  dificuldade  de alcançar  o  grau  de  segurança necessário. Eles podem ser capazes de gritar, acenar por socorro, ou mover-se em direção à ajuda de outros;

     Alguns  nadadores  nem  sequer  sabem  que  estão  em  perigo  e  podem nadar  contra  uma  corrente  sem,  num  primeiro momento,  perceber  que  não  estão obtendo sucesso;

     A  ocorrência  da  angústia    pode  durar  alguns  segundos  ou  pode prolongar-se  por  alguns  minutos  ou  até  mesmo  horas.  À  medida  que  a  força  do nadador  esgota-se,  a  ocorrência  da  angústia  progredirá  ao pânico se  a  vítima  não for resgatada ou ficar em segurança;

     Guarda-vidas   alertas   em   uma   praia   guarnecida   são   perfeitamente capazes de intervir durante a fase de angústia no processo do afogamento. De fato não  é  incomum  algumas  pessoas  protestarem  que  elas  não  precisam  de  ajuda porque elas ainda estavam para se sentir angustiadas, embora possa parecer claro para o guarda-vidas que elas estavam em perigo óbvio;

     Angústia  dentro  d’água  é  sério,  mas  esta  fase  de  afogamento  nem sempre ocorre. Se ocorrer, a rápida intervenção nesse estágio pode assegurar que a  vítima  não  sofra  qualquer  efeito  do  afogamento  e  possa  assim  continuar  se divertindo o resto do dia. A USLA (United States Lifesaving Association) estima que 80%  dos  salvamentos  em  praias  de  arrebentação  ocorram  devido  a  correntes  de retorno. Em tais casos a fase de angústia é típica.

Pânico:

     O estágio do pânico do processo de afogamento pode se desenvolver do estágio  da  angústia,  à  medida  que  a  vítima  perca  suas  forças,  ou  pode  começar imediatamente  à  imersão  da  vítima  na  água.  No  estágio  do  pânico,  a  vítima  é incapaz  de  manter  sua  flutuabilidade  devido  à  fadiga,  completa  falta  de  habilidade natatória, ou algum problema físico. Por exemplo, um nadador fraco que cai de um equipamento  flutuante  pode  imediatamente  entrar  no  estágio  do  pânico.  Há  pouca evidência de qualquer braçada de sustentação efetiva;

     A  cabeça  e  o  rosto  estão  voltados  para água,  com  o  queixo  geralmente estendido. A vítima concentra toda sua energia para respirar, de forma que não há grito por socorro. O pânico irrompeu, tomou conta do banhista;

     A  vítima  em  pânico  pode  usar  uma  braçada  ineficiente,  parecida  com  o nado cachorro.  Guarda-vidas se  referem  à  aparência  das  vítimas como “escalando para fora do buraco” ou “subindo a escada”. O estágio do pânico raramente dura muito  por causa  de que as  ações  da  vítima  são  extremamente  ineficientes.  Alguns estudos  sugerem  que  dura  normalmente  entre  10  e  60  segundos,  para  desse estágio  poder  progredir  imediatamente  para  a  submersão,  a  menos  que  ela  seja resgatada. Portanto o guarda-vidas deve reagir muito rapidamente.

Submersão:

      Ao  contrário  da  crença  popular,  a  maioria  dos  afogamentos  não  resulta em  uma  pessoa  boiando emborcada  (flutuando  em  decúbito  ventral).  Apesar  do aumento  da  flutuabilidade  proporcionado  pela  água  salgada,  pessoas  sem  um equipamento   flutuante   que   perdem   sua   habilidade   para   se   manter   flutuando submergem e vão até o fundo;

     Em  água  doce, que  proporciona  muito  menos  flutuabilidade  que  a  água salgada,  a  submersão  pode  ocorrer  extremamente  rápido.  A  submersão  pode  não ser  fatal  se  a  vítima  for  resgatada  a  tempo,  mas  isso  pode  ser  uma  tarefa  muito difícil.    Diferentemente    da   água   cristalina    das piscinas,    o    mar    aberto   é frequentemente escuro e a visibilidade na água pode ser muito baixa ou até zero. As correntes  e  a  ação  da  arrebentação  podem  deslocar  o  corpo  para  uma  distância significativa do ponto de submersão inicial;

      Uma  vez  ocorrida  a  submersão,  a  chance  de  um  resgate  bem  sucedido diminui  dramaticamente.  Isto  faz  com  que  na  fase  da  angústia  ou  do  pânico  seja crucial;

     Baseada na experiência de guarda-vidas profissionais em praias, a USLA acredita  que  há  um  intervalo  de até  dois  minutos  com  maior  possibilidade  de  um resgate com sucesso e ressuscitação de vítimas submersas. Após isto, as chances de  resgate  com  êxito  diminuem  rapidamente.  Em  águas  frias,  salvamentos  bem sucedidos  têm  sido  documentados  após  uma  hora  de  submersão  ou  mais,  porém estes são casos extremamente raros.

Item 2.2.4 adaptado de: “The United States Lifesaving Association Manual of Open Water Lifesaving” –B.  Chris  Brewster  (Editor) –1995 –Pontice –Hall,  Inc.,  Páginas  75  e  76 Traduzido por: Sandro Magosso –1º Ten PM –Ch StOI –Abr/98

Graus de afogamento:

     Para que haja uma melhora no atendimento às vítimas de afogamento, bem como  uma  padronização  na  maneira  de  se  prestar  os  primeiros  socorros  a  tais vítimas,  existe  a  necessidade  de  se  graduar  o  afogamento,  pois  cada  vítima, dependendo de seu estado, necessita de cuidados médicos diferenciados;

     Partindo-se  desse  princípio,  separamos  o  afogamento  em  06  (seis)  graus diferentes,  onde  levamos  em consideração o  batimento cardíaco,  a  respiração, e a pressão arterial;

     Todos  os  casos  de  afogamento  podem  apresentar  hipotermia,  náuseas, vômitos,  distensões  abdominais,  tremores,  cefaleia,  mal  estar,  cansaço,  dores musculares, dor no tórax, diarreia e outros sintomas inespecíficos;

     Após a aspiração de água, uma vítima pode apresentar sons diferentes dos usuais durante a respiração, pois existe água em seus pulmões. São eles: 1)

SIBILOS:

são chiados no peito, semelhantes aos chiados de indivíduos com crise de  asma  e  ocorrem  principalmente  durante  a  expiração,  denotando  a  presença  de uma pequena quantidade de água dentro dos pulmões; 2)

RONCOS:

são  barulhos  semelhantes  ao  som  produzido  quando  sopramos através de um canudo dentro de um copo com água e ocorrem tanto na inspiração quanto  na  expiração,  denotando  desta  feita,  uma  quantidade  importante  de  água aspirada; 3)

ESTERTORES:

     São  sons  semelhantes  aos  roncos,  porém  mais  agudos  (finos), lembrando  o  som  produzido  quando  esfregamos  um  tecido  em  outro,  próximo  ao ouvido, sinalizando grande quantidade de água aspirada.

     Baseados nas informações acima, já temos condições de estudar os graus de  afogamento,  seus  sintomas  e  quais  os  procedimentos  para  o  socorrista  que  irá prestar os primeiros socorros.

Afogamento grau 1:

      As  vítimas  que  apresentam  esse  grau  de  afogamento,  aspiraram  uma quantidade  mínima  de  água,  suficiente  para  produzir  tosse.  Geralmente  têm  um aspecto geral bom, e a ausculta pulmonar normal ou com sibilos ou roncos, sem o aparecimento de estertores sendo que seu nível de consciência é bom com a vítima apresentando lucidez, porém podem estar agitadas ou sonolentas;

     Tais vítimas sentem frio e têm suas frequências cardíacas e respiratórias aumentadas, devido  ao  esforço  físico,  estresse  do  afogamento  e  também  pela descarga  adrenérgica.  Não  apresentam  secreções  nasais  e  bucais  e  podem  ainda estar cianóticas devido ao frio e não devido à hipóxia;

Tratamento: verificação dos sinais vitais:

1) fazer a vítima repousar;
2) tranquilizar;
3) aquecer;
4) liberação no local.

Afogamento grau 2:

     É  apresentado pelas  vítimas  que  aspiram  quantidade  de  água suficiente para  alterar  a  troca  gasosa  (O2-CO2).  Se  for  constatada  cianose,  nos lábios  e dedos, temos o comprometimento do sistema respiratório;

     Verifica-se também o aumento das frequências cardíacas e respiratórias, sendo notada também a presença de estertores durante a auscultação pulmonar de intensidade leve a moderada, em alguns campos do pulmão;

Tratamento: verificação dos sinais vitais:

1) aquecimento corporal;
2) apoio psicológico;
3) ministrar O2 a 10 Lpm;
4) atendimento médico especializado.

Afogamento grau 3:

      Neste grau de afogamento a vítima aspira uma quantidade importante de água, apresentando sinais de insuficiência respiratória aguda, com dispnéia intensa (dificuldade respiratória), cianose de mucosas e extremidades, estertoração intensa, indicando  um  edema  pulmonar  agudo,  e também  a  presença  de  secreção  nasal  e bucal;

     Deve-se  tomar  cuidados  com  as  vítimas  no  que  tange  a  vômitos,  pois pode ser um fator de agravamento caso não sejam tomadas medidas para evitar a aspiração.  Para  evitar  que  haja  aspiração  de  vômito,  deve-se  virar  a  cabeça  da vítima para o lado;

     No  grau  3  a  vítima  apresenta  taquicardia  (frequência  cardíaca  acima  de 100  batimentos  por  minuto),  contudo  sem  hipotensão  arterial  (pressão  arterial sistólica menor que 90mmHg), além de uma grande quantidade de espuma na boca e nariz;

Tratamento: verificação e monitoração dos sinais vitais:

1) ministrar O2 de 10 Lpm, devido à dispnéia;
2) aquecimento corporal;
3) deitar a vítima lateralmente com o lado direito apoiado no chão;
4) atendimento médico especializado.

Afogamento grau 4:

      O  afogamento  grau  4  se  assemelha  muito  com  o  grau  3,  porém  a diferença  é  que  no  grau  4  a  vítima  apresenta  um  quadro de  hipotensão,  que  pode ser verificada com a ausência de pulso radial, a vítima apresenta taquicardia;

     Cabe  lembrar  que  as  diferenças  entre  o  grau  3  e  o  grau  4  só  serão importantes   para   o   atendimento   hospitalar,   sendo   que   para   o   socorrista   o procedimento não difere muito de um caso para o outro;

Tratamento: verificar e monitorar sinais vitais:

1) ministrar O2 de 10 Lpm;
2) aquecer a vítima;
3) deitar a vítima lateralmente com o lado direito apoiado no chão;
4) atendimento médico especializado.

Afogamento grau 5:

     Nos casos de afogamento em grau 5, a vítima apresenta-se em apnéia (parada respiratória), contudo apresenta pulso arterial, indicando atividade cardíaca. Apresenta um quadro de coma leve a profundo (inconsciente) com cianose intensa grande quantidade de secreção oral e nasal;

Tratamento: verificação e monitoração dos sinais vitais:

1) efetuar ventilação na vítima (boca a boca, AMBU);
2) aquecer a vítima;
3) atendimento médico especializado.

Afogamento grau 6:

Trata-se da Parada Cardiorrespiratória, representada pela apnéia e pela ausência de batimentos cardíacos;

Tratamento:

Efetuar Reanimação Cárdio Pulmonar (RCP):

1) em se obtendo sucesso na RCP deve-se aquecer a vítima;
2) monitorar sinais vitais;
3) ministrar O2a 10 Lpm;
4)atendimento médico especializado.

      Além  disso,  cabe  fazer  algumas  observações  quanto  aos  graus  de afogamento:

1)  os  graus  de  afogamento  não  têm  caráter  evolutivo,  ou  seja,  uma  vítima  que apresenta  grau  6,  caso  ela  tenha  suas  funções  cardiorrespiratórias  restabelecidas, ela  continua  sendo  uma  vítima  grau  6,  porém  teve  retorno  de  seu  pulso  e respiração,  portanto  o  grau  de  afogamento  deve  ser  estabelecido  assim  que  o socorrista chegar à vítima e analisá-la. Tal melhora no quadro clínico não representa uma evolução de grau;
2) devemos sempre lembrar que o termo “GRAUS DE AFOGAMENTO” refere-se somente  à  vítimas  de  afogamento,  ou  seja,  vítimas  que  aspiraram  água.  Portanto um  salvamento  no qual a  vítima  não aspirou  água  não  se  trata  de  afogamento,  ou seja, tal vítima não possui grau de afogamento;
3)  devemos  deitar  a  vítima  lateralmente  com  o  lado  direito  para  baixo,  porque  o pulmão  direito  é  sempre  o  primeiro  a  ser  afetado  por  conta  de  sua  anatomia, portanto se o colocarmos num plano mais baixo, a gravidade trará água do pulmão esquerdo para o direito, fazendo com que ele fique com a água aspirada enquanto o outro supre todas as necessidades metabólicas de troca gasosa.

Apagamento:



      O  apagamento  é  uma  forma  de  desmaio  que  ocorre  sob  a  água  podendo levar a vítima ao afogamento caso não seja retirada do meio líquido. Ocorre por falta de  oxigenação  cerebral,  quando  a  vítima  permanece  em  apnéia  prolongada,  além de sua capacidade;

     O  apagamento  ocorre  quando  o  bulbo  cerebral,  que  é  responsável  pela manutenção  em  níveis  normais  das  taxas  de  O2 e  CO2 na  corrente  sanguínea, percebe uma queda muito grande na concentração de O2;

     Sabemos  que  as  taxas  de  O2 e  CO2 são  inversamente  proporcionais,  ou seja, se cai O2 aumenta CO2 e vice-versa. Pois bem se respirarmos normalmente as referidas taxas estarão equilibradas, porém se segurarmos nossa respiração haverá uma  queda  no  O2 e  aumento  de  CO2.  Quando  o  CO2 atinge  uma  certa  proporção temos um impulso incontrolável de respirar para que seja restabelecido o equilíbrio. Porém  a  taxa  de  O2 desce  e  quando  atinge  certa  proporção  o  bulbo  interpreta  a queda  como  “perigo”  e  então  “desliga”  o  corpo,  fazendo  assim  com  que  seja consumido menos oxigênio;

     Então  explicado  o  mecanismo  do  apagamento,  consideremos  a  seguinte situação:

     Um  aluno  de  um  curso  de  mergulho,  antes  de  realizar  um  exercício  em apnéia  efetua  uma  hiperventilação,  mergulha  para  o  exercício  e  apaga.  O  que aconteceu?  Pois  bem,  com  a  hiperventilação  existe  a  crença de  que  estamos aumentando  a  taxa  de  O2 em  nosso  sangue,  proporcionando  assim  um  acréscimo no tempo em apnéia, porém o que ocorre é que a taxa de O2 não se altera, mas a de CO2 sim, ela tem um decréscimo muito acentuado.

     Então  sendo  a  taxa  de  CO2 a  responsável  por  fazer  com  que  o  bulbo dispare o impulso de respirar, ela em condições normais levaria um tempo “x” para atingir seu nível crítico, mas com a hiperventilação esse tempo será “x + y”, pois o acumulo de CO2 no sangue será menor que em condições normais, ou seja, ele terá mais tardiamente o impulso de respirar;

     Sabendo-se  que  a  taxa  de  O2 é o fator que constitui o “gatilho” para o apagamento,  temos  aí  o  problema:  antes  que  o  mergulhador  tenha  vontade insuportável  de  respirar,  a  taxa de  O2 já  caiu  para  níveis  críticos,  causando  o apagamento.  Mas  acontece  que  a  taxa  de  CO2 continua  a  subir  e  quando  for atingido o seu limite, o bulbo irá disparar o impulso de respirar, causando assim um afogamento;

     Para  o  socorrista,  quando  notar  uma  vítima  de  apagamento,  o  mais importante  é  que  se  retire  a  cabeça  da  vítima  de  dentro  da  água  o  mais  rápido possível  e  aguardar  o  impulso  da  respiração  que  virá  naturalmente,  tomando  o cuidado de liberar as vias aéreas para maior comodidade da vítima. Caso não tenha tido  tempo  hábil  e  a  vítima  já  tenha  aspirado  água,  o  socorrista  deve  proceder conforme o grau de afogamento.

Fonte: Comissão de Padronização de Salvamento Aquático, Do Corpo De Bombeiros Da PMESP

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